De fato, se no território, a casuística de abusos e inadimplências na consistente comunidade de imigrantes para satisfazer as necessidades da própria população produtiva é ampla, o relatório também aponta o dedo contra os abusos internos e externos ao seu território que dizem respeito às empresas, muitas vezes subcontratadas de multinacionais que, aquém ou – majoritariamente – além da fronteira com a mãe-pátria chinesa, têm lucrativas realidades produtivas. Começando pela eletrônica de consumo.
Como lembra o relatório, nas três maiores categorias que buscam delimitar as razões da escravidão global, o grande negócio está situado no mesmo nível do crime organizado e da exploração de seres humanos. A importância do problema, de fato, também é econômica (um valor global estimado em 150 bilhões de dólares por ano), com atores que, muitas vezes, fingem ignorar que a busca de mão de obra barata tem um preço elevado em dignidade, saúde e direitos negados.
Não por acaso, o próprio promotor do relatório, Andrew Forrest, pede que os governos das 10 economias mais desenvolvidas “elaborem e apliquem leis que sejam ao menos tão severas quanto aquela contra a escravidão moderna aprovada no Reino Unido em 2015, que assegura recursos e vontade de incidir nas empresas que apresentem, na sua cadeia de fornecedores, formas de escravidão, e que garante uma supervisão independente”.
Como confirmação de uma tendência positiva de ação, em fevereiro passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, assinou a atualização de uma lei comercial de 1930 para impedir que as mercadorias de importação tenham também trabalho escravo entre os seus “ingredientes”.