Uma greve de fome em Angola provoca ondas de protesto contra o governo local.
O músico de rap e hip hop angolano , há um mês sem comer, disse que só interromperá o protesto se ele e outros 14 ativistas políticos presos forem soltos para responder ao processo em liberdade. Os 15 são acusados de conspirar para um golpe de Estado e têm julgamento previsto para 16 de novembro.
A reportagem foi publicada por Público, 20-10-2015.
– É uma greve humanitária e de justiça – disse a fotógrafa Mónica Almeida, mulher de Luaty e mãe de sua filha Luena, dois anos.
Ao jornal Público, ela acrescentou: os ativistas “estiveram 90 dias fechados numa cela de castigo, sem ser conhecida qualquer acusação contra eles, quando por lei esse prazo não pode ultrapassar os 21 dias”.
A Anistia Internacional pediu a libertação “imediata e incondicional” dos detidos desde junho.
– Luaty entrou no segundo mês de greve de fome e acreditamos que o seu estado de saúde seja crítico. Sua detenção foi uma afronta à liberdade de expressão, e as autoridades parecem determinadas a agravar essa chocante injustiça mantendo-o em detenção – diz Deprose Muchena, diretor da Anistia Internacional, exigindo que “todas as acusações sejam anuladas”.
– Os ativistas não cometeram crime nenhum e foram detidos por exercerem o direito de expressão. Estão em apuros com um governo decidido a esmagar a dissidência. São prisioneiros de consciência – definiu.
Quanto ao estado de saúde de Luaty – que bebe água e chá e recebe soro –, Mónica disse que, “apesar da fraqueza, permanece estável”, sem que os médicos da Clínica Girassol de Luanda tenham detectado algo “alarmante”.
Em texto publicado na imprensa angolana, a compositora Aline Frazão faz coro com o pedido de habeas corpus. “A inflexibilidade do Estado angolano, perante uma exigência que merece ser ouvida, não só pelo atropelado desenrolar do processo, mas também pelo risco de vida iminente do Luaty, deixa Angola malvista dentro e fora de portas”, escreveu ela, acrescentando: “Por mais que se tente evitar, a decisão mais sensata, capaz de acalmar os ânimos (…) é que aguardem pelo dia 16 em casa. (…). Habeas corpus já, para todos”, defende Aline.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa escreveu artigo para a imprensa brasileira. “Enquanto escrevo este texto um amigo meu morre de fome em Luanda. Luaty Beirão, 33 anos, está sem comer desde o passado dia 21 de setembro, em protesto contra a sua prisão e a de outros 14 jovens, há cerca de três meses”, afirma Agualusa no texto.